quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O outro me revela quem sou (ou gostaria de ser)

Eu não acredito nessa crença arraigada de que não escolhemos as pessoas de quem gostamos ou desgostamos. Acho esse tipo de pensamento sem personalidade, covarde e foge à idéia de livre arbítrio.
A verdade, verdadeira mesmo é que procuramos em nós mesmos motivos para gostar ou simplesmente não "ir com a cara" de alguém. Daquelas que nos derretemos ao afirmarmos que amamos são as pessoas que são e/ou nos tornam quem queríamos ser. Quanto àquelas que torcemos o nariz toda vez que esbarramos (e é incrível, sempre esbarramos) são as pessoinhas que demonstram da forma mais pura aquilo que detestamos em nós mesmos. Claro, que isso nem sempre acontece de forma clara e objetiva, mas em todos os casos nos remete a uma frustração interna (Freud explica).
O que quero dizer é que procuramos os motivos pelo quais nos ligaremos a esta ou àquela pessoa. Algumas podemos tolerar, o que exige um esforço enorme, porque sempre que falamos com ela aquele defeito vai aumentando, aumentando de modo que só reste ele e não mais a pessoa. Ficamos diante da imperfeição do ser-humano (todos eles, inclusive nós), em pessoa, e não podemos (ou melhor, não queremos) acreditar, sobretudo aqueles que "se acham" pra caramba. E tudo o que queremos fazer, em seguida, é evitar qualquer contato com a imperfeição, pode ser que daí é que surjam as patologias sociais como, por exemplo, o bullying. Mas aí já outra história.



Todo esse enunciado com trejeitos da psiquê são só para elucidar um fato que me aconteceu. Um, porque claro que já aconteceu muitas vezes, inclusive já rolou com todo mundo, mas eu falarei especificamente desse um.
Conheci um carinha muito bacana, eu não entendo metade do que ele fala, mas o fato dele ter gostado de mim antes, já lhe é um ponto a favor. Já deixo, claro, que gostar não é no sentido amoroso, hein, pelo menos da minha parte. Fato é que conversa vai, conversa vem, fomos sentar no chão eu, ele e outros dois que ali estavam pra jogar truco. Após alguns trucos, num abaixar de cabeça, vi aquela coisa que não deveria estar ali. Mas estava. Oh, triste constatação! Receei que fosse regurgitar, ali mesmo, na frente de todos, na calçada. Respirei fundo, tentei não olhar, mas era tudo o que eu via. Aquela pessoa que ali estava, foi sumindo e desapareceu. E só ficou aquilo. Lá, me olhando. Tentando a todo custo me fazer por pra fora os resultados de um enjoo absurdo. Eu não podia mais. Deixei as cartas no chão, dei uma desculpa conveniente (porque era verdadeira, ia sair dali a pouco) e entrei pra dentro de casa. E aí você me pergunta, "o que era ?" Ali, naquele pé não eram 5, mas 6 dedos. Pode falar que é besteira minha, mas algo assim tão de perto (antes, só tinha visto na tv quando a Cicarelli calçou as sandálias da humildade) é no mínimo (nojento) revelador . Não sei o que revela de mim mesmo, já que não tenho nada a mais em meu corpo, sobretudo um dedo, mas que há algo aí de mim, diz a psiquê quem tem.

*O que estou lendo: Phillips, Adam. O Flerte. Editora Companhia das Letras, 1998.

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